Atrasos no desenvolvimento da fala: como notar e contornar

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Por Dra. Adriana Monteiro de Barros Pires, pediatra*

A demora para soltar algumas palavras exige atenção. Mas, diagnosticando o problema cedo, as chances de revertê-lo são bem maiores.

Seu filho não está falando? Você está desconfiado que ele está atrasado para falar? Não dá para entender quase nada do que ele diz? Vamos ver como podemos ajudar.

A linguagem é um conceito amplo da comunicação. É a capacidade de o indivíduo expressar suas ideias, suas vontades, suas emoções. Isso pode ser feito através da fala, mas também com gestos, olhares, sons e escrita.

O desenvolvimento da linguagem começa muito antes de a criança emitir suas primeiras palavras. Com 6 a 9 meses, ela já passa a balbuciar sílabas repetidas – “bababa”, “mamama”.

Entre 10 a 12 meses, observamos o aparecimento dos gestos com significado, como dar tchau, esticar os braços quando quer o colo ou apontar para algo que deseja.

Ao redor de 13 a 15 meses, a criança ainda pode não proferir palavras, mas ela já brinca de falar. Emite sons, às vezes sem significado, como se estivesse querendo comunicar algo.

Quando esperamos que uma criança fale palavras? Algumas já ensaiam antes dos 12 meses de idade. O mais comum, no entanto, é que isso ocorra entre 12 e 18 meses.

Ao redor de 2 anos, o vocabulário tem entre 50 a 100 palavras, e, a partir de então, aumenta em uma velocidade tão rápida que até perdemos a conta.

Quando procurar ajuda
Se seu filho tem 18 meses e ainda não fala ou se passou dos 2 anos e emite poucas palavras, atenção: alguma coisa pode estar errada. Converse com seu pediatra para procurar ajuda especializada.

É comum escutarmos que cada criança se desenvolve no seu tempo e que depois ela recupera o atraso. Mas é preciso cuidado. Um atraso real não diagnosticado pode gerar outros problemas e a perda de tempo precioso para iniciar um tratamento o mais brevemente possível.

Entre outras coisas, fique atento a esses três pontos:

1) Você nota que seu filho escuta bem? O teste da orelhinha ao nascimento foi normal? Ele teve muitas infecções ou dores no ouvido?

Para aprender a falar, é preciso ouvir bem e ser capaz de diferenciar os sons. Se você desconfia que seu filho não ouve, ou que não escuta muito bem, converse com o pediatra para ver a necessidade de um exame de audição.

2) Como está o desenvolvimento do seu filho? Ele começou a andar antes dos 14 meses, e brinca com os brinquedos de uma forma adequada? Se interessa por outras crianças?

A fala não evolui isoladamente. É importante observar como está o desenvolvimento de uma forma geral.

3) Existe algum sinal sugestivo do espectro autista?

O atraso na fala é apenas um dos sinais. Outros podem ser sutis, como ter dificuldade para olhar nos olhos, usar brinquedos de forma diferente, adquirir manias esquisitas.

Ou mesmo não responder quando chamado, fazer movimentos repetitivos, não utilizar gestos como “apontar” e ter pouco interesse por expressões de emoções (não emitindo sorrisos em resposta às gracinhas dos pais). Os pequenos com esse quadro também não buscam ativamente a interação com outras pessoas, mesmo pais e irmãos.

Se alguma dessas três questões disparar um sinal de alerta, é necessário buscar auxílio para o diagnóstico e início do tratamento especializado o mais rapidamente possível.

Agora, é importante não confundir o ato de não falar com o de falar errado. É comum as crianças trocarem os sons quando estão experimentando as primeiras palavras.

Acima dos 2 anos de idade, se há uma fala muito errada que ninguém entende, ou se, acima de 3 anos, a fala tem muitas trocas de letras, é preciso consultar um pediatra, que pode indicar avaliação fonoaudiológica. Não se deve aguardar até os 4 anos de idade para procurar auxílio profissional!

No mais, ajude seu filho a desenvolver a fala. Converse com ele o tempo todo, conte histórias desde bebê, cante músicas com gestos para acompanhar o som. Narre ações do dia a dia, descreva o que estão vendo ou fazendo juntos. E, até os 2 anos de idade, evite o uso de TV, tablets e celulares, que não promovem estímulos adequados.

*Dra. Adriana Monteiro de Barros Pires é vice-presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da SPSP

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